Apresentação

Pertencimento. Certamente esse é o sentimento maior que nos leva a empreender um projeto de registrar a história da cidade onde nascemos e nos fizemos cidadãos, a resgatar as suas memórias, as suas culturas, as suas conquistas, as suas derrotas, as suas famílias, os seus imigrantes, as muitas transformações, as coisas que se foram, as que estão nascendo.

O projeto deste livro nasceu dessa necessidade de concretizar o pertencimento. E só foi possível com o apoio, o trabalho, a cumplicidade e a memória de muitas pessoas e famílias de Jacutinga. Certamente não é uma reconstituição perfeita. Tem várias lacunas. Mas foi o retrato que conseguimos traçar. Um começo. Um legado para as gerações de hoje, a impulsionar pesquisas e registros futuros.

Cada cidade, por menor que seja, tem sua particularidade. Jacutinga se diferenciou com cultura e hábitos próprios, pertinentes a uma cidade de fronteira, onde a mobilidade é grande em todos os sentidos.

Começamos a existir nos primeiros anos do século XIX , desmatando, plantando fumo e cereais. Mais tarde, com a crise do café se acentuando no Vale do Paraiba, a partir da Lei do Ventre Livre, a cultura cafeeira caminha em direção ao Oeste e chega aqui. Figuramos entre os cinco maiores produtores de café de Minas Gerais no início do século XX .

Após a crise de 1929 , a fome e a miséria causaram um grande exôdo da mão de obra agrícola do município em direção à colonização do Paraná e aos subúrbios das grandes cidades da região.

Até o aparecimento da indústria do tricô, Jacutinga viveu o encolhimento de sua população, da economia e das oportunidades. Tentou, a partir da década de 1940 , transformar-se em uma estância hidromineral, conseguindo o titulo em 1950 , o que deflagrou a construção da Fonte São Clemente (1956) e do Hotel Estância (1962) , hoje Hotel Parque das Primaveras. Por falta de planejamento e investimento público, a Fonte se transformou talvez no maior problema urbano da cidade nos dias de hoje.

A cidade só se recuperou economicamente com o ciclo das malhas, que começa com o feltro nos anos 1960 e se consolidou a partir da década seguinte. Mas o caminho não tem sido fácil. A dificuldade de manutenção de políticas públicas estáveis, acompanhada da incapacidade de planejamento de médio e longo prazo para as atividades das pequenas e médias empresas da indústria têxtil, traz uma cenário de poucas certezas, que se somam à conjuntura macroeconômica adversa.

Ainda não somos um destino turístico. Deixamos também de ter a malharia como atividade principal e iniciamos um polo industrial sem uma política clara para o setor. E sem discussão com a sociedade civil. É preciso fazer uma pausa e pensar qual é a vocação de Jacutinga.

Como disse lá no começo, este projeto foi resultado de um trabalho coletivo. Mas entre os agradecimentos especiais, quero lembrar Dona Lu Viotti, minha mãe, pelo conhecimento que me transmitiu e por me despertar para a cidadania.

Registro ainda Wilson Silveira Junior, que se dedicou a realizar o Plano Diretor de Jacutinga; Carlos Cruz, pela articulação; Nívea Tavares, pelo incentivo; Walter Fonseca, pela luta em manter a memória da cidade; Otávio Salles, que recolheu e preservou documentos históricos; e Agnaldo Perugini, que nos apoiou no projeto deste livro desde os primeiros momentos.

Meu muito obrigado a Nívea Dias e aos meus filhos —Iris, Júlio, Ian e Isa— e aos netos Rafael e Isabel. Não fosse seu comprometimento, este trabalho teria ficado pela metade.

Por fim, quero agradecer a todos que abriram as portas de suas casas e de suas memórias para compartilhar conosco as suas histórias.

Hilton Viotti
Jacutinga, novembro de 2018